v. 14 n. 01 (2023): Dossiê: Discurso e leitura: os consensos que nos tornam os leitores que somos
LEITURA E INTERPRETAÇÃO: Os consensos que nos tornam os leitores que somos
A leitura é, sem dúvida, um tema frequente em nossa sociedade. O mesmo ocorre quando observamos embates em torno do processo de interpretação na sociedade, em função sobretudo da crença na transparência da linguagem. Falamos com frequência dessas práticas, de seu ensino, como (não) deveríamos interpretar, do que é dado a ler na atualidade, daqueles que são leitores, daqueles que não são leitores, das razões que tornam alguns leitores e outros não. Tudo isso que em geral é dito e circula sobre a leitura e a interpretação de forma bastante consensual. Para a Análise do discurso, como uma teoria dedicada à compreensão do funcionamento dos discursos e de sua incidência sobre as práticas, sobre os objetos e sobre os sujeitos, de seu papel constitutivo e determinante das formas como concebemos e exercemos essas práticas, construímos e valorizamos esses objetos e nos tornamos certos sujeitos, é fundamental analisar, descrever e compreender a formação dos consensos, ou seja, os processos, as razões, as instituições que fazem com que certos dizeres circulem mais do que outros, que perdurem ao longo do tempo e que circulem com valor de verdade acerca de uma prática, tal como a leitura e o ato interpretativo, ou dos sujeitos, como leitores.
Neste número da “Letras em Revista” convidamos a todos que têm se dedicado a estudar a leitura e a interpretação a partir de perspectivas abertas pela Análise do discurso, em suas diferentes vertentes, a submeterem seus artigos sobre o tema, em especial aqueles que têm se ocupado das formas como nos referimos à prática da leitura e da interpretação, analisadas de modo independente ou interrelacionadas, das formas como a enunciamos em diferentes situações, seja para ensiná-la nas escolas, seja para incentivá-la desde a infância, seja para promovê-la em campanhas, livros didáticos ou políticas públicas, seja para falarmos de nós ou do outro como leitores de formas elogiosas ou plenas de distorção ou preconceitos.