“Se um dia eu lhe enviar estas linhas, você vai querer saber o resto da minha história”: a escrita testemunhal afro-caribenha de Françoise Ega em “Cartas a uma negra”
Palavras-chave:
Cartas a uma negra, Testemunho, MemóriaResumo
Por meio de uma leitura centrada na possibilidade de diálogo entre a sedimentação de registros memorialísticos e literatura, este artigo analisa a narrativa do livro Cartas a uma negra (2021) da escritora antilhana Françoise Ega (1920-1976). Trata-se de um texto escrito em formato de diário, mas com caráter epistolar, pois perfaz um conjunto de cartas pretensamente endereçadas à autora brasileira Carolina Maria de Jesus. Por conta desse imbricamento, o exercício de leitura desenvolvido no trabalho destaca as muitas perspectivas encontradas em um texto de múltiplas funções. O presente artigo discute narratividade, memória, testemunho e colonialidade, tendo como arcabouço teórico autores como Paul Ricouer, Aleida Assmann, Margaret Randall e Frantz Fanon. A obra analisada coloca o leitor diante do testemunho autobiográfico da realidade de mulheres afro-caribenhas migrantes, trabalhadoras domésticas na França dos anos 1960.